O semiárido de Minas Gerais é a região com maior tempo de estiagem nesta seca histórica que o Brasil enfrenta. As cidades de Verdelândia, Nova Porteirinha, Pai Pedro, Janaúba, Catu e Capitão Enéas, além de outros no entorno, já acumulam cerca de 150 dias sem chuva. O dado foi divulgado em nota técnica ontem, 5 de setembro, pelo Cemaden, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais.
A estiagem tb ultrapassa 100 dias em Goiás, Mato Grosso e Bahia. É a seca mais forte, com maior área afetada e a mais duradoura dos últimos 70 anos.
Os episódios de seca se intensificaram a partir dos anos 90, com três grandes picos em 1997/98 , 2015/16 e agora 2023/24. Mas este episódio atual apresenta mais intensidade.
A seca é classificada pelo Cemaden como moderada, severa, extrema e excepcional. Os últimos três níveis estão maiores na seca atual.
A abrangência também é maior desta vez: cerca de 5 milhões de km2 no Brasil foram afetados, o que corresponde a 59% do território do país vivenciando a seca. Todas as regiões foram atingidas com exceção da região Sul. No último episódio, em 2015/16, ela se concentrou nas regiões norte e nordeste.
A seca também já afeta 80% da produção agropecuária de quase mil municípios do país: 963 municípios tiveram mais de 80% de suas áreas agroprodutivas afetadas pela seca, concentrando-se principalmente em Minas Gerais (333), São Paulo (275) e Mato Grosso (86).
Outros 284 municípios registraram entre 60% e 80% de área agroprodutiva potencialmente afetada, sendo 69 em Minas Gerais e 60 em São Paulo.
Desmatamento e aquecimento do planeta são, a longo prazo, fatores que causaram a seca histórica
O fenômeno El Niño teve participação a curto prazo, já que ele atuou provocando diminuição de precipitação na estação chuvosa. Como consequência, o último período de chuva não foi suficiente para repor a umidade do solo e da vegetação, nem recarregar os aquíferos, assim os níveis dos rios ficaram abaixo do esperado. À longo prazo, no entanto, o Cemaden destaca dois fatores responsáveis pela seca histórica presente no Brasil:
- As mudanças climáticas que estão gerando um aquecimento progressivo da atmosfera e que tendem a produzir sequências mais longas de dias sem chuva
- As mudanças do uso do solo: ao substituir áreas de floresta por áreas dedicadas à agricultura e/ou a pastagens, degradam uma fonte importante de umidade, tanto do ar quanto do solo, o que deriva na redução da umidade ambiente e, consequentemente, das precipitações.
A seca já atinge bacias hidrográficas de todas as regiões brasileiras, com exceção da região Sul: as bacias das regiões Norte (rio Madeira, Xingu e Tocantins-Araguaia), Centro-Oeste (rio Paraguai) e Sudeste (rio Paraná), e as bacias no vale do Jequitinhonha na região Nordeste, estão enfrentando seca hidrológica variando de severa a excepcional.
A previsão é de atraso na próxima estação chuvosa, ou seja, a estiagem nos rios de todo o país vai se prolongar. “O motivo é comportamento do Oceano Atlântico, que está mais quente que o normal na região da América Central”, diz a nota técnica.