Um vilarejo cercado pela paisagem da Serra do Espinhaço foi o lugar que o fotojornalista Marcos Guião escolheu para colocar em prática os conhecimentos sobre plantas medicinais. Ele já pesquisava e ensinava sobre o manejo e os benefícios das plantas há mais de 20 anos, quando encontrou o terreno em São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro (MG).
Antes, porém, de realizar a vontade de cuidar das pessoas por meio das plantas, ele precisou de cuidar da terra. A área havia sido usada como pasto e estava tomada pelo capim braquiária, que é usado para alimentação do gado, mas empobrece o solo.
“Comecei a retirar grande parte do capim e, depois, a plantar novas espécies e a deixar as plantas espontâneas surgirem. Normalmente, nos terrenos usados como pasto, a prática é cortar todo tipo de planta e deixar apenas o capim braquiária, mas assim que as novas plantas cresceram, elas começaram a competir por espaço e controlar o capim”, conta Marcos.
A ervanaria começou com mudas de teste: alguns temperos e plantas, como calêndula, malva e patchouli. Depois, Marcos fez novos canteiros. O plantio de algumas árvores também ajudou a controlar ainda mais o capim, já que o braquiária não gosta de sombra.
“Na verdade, eu aprendi a conviver com o braquiária porque eu não retiro totalmente o capim. Eu espero crescer e completar seu ciclo, corto e então uso para fazer uma cobertura morta nos canteiros. Essa cobertura é essencial para conservar a umidade de solo.”
A biodiversidade enriqueceu naturalmente a terra. Assim que as plantas espontâneas cresceram, a polinização completou o trabalho deixando a área mais verde e melhorando a qualidade do solo. Marcos percebeu que tinha uma parceria poderosa no trabalho de melhorar o terreno: a própria natureza.
“As plantas pioneiras, essas espontâneas, criam uma camada mais nutritiva na terra e preparam o terreno para as outras. A natureza é incrível, porque ela tem uma capacidade de regeneração muito grande.”
As plantas medicinais da ervanaria
Todo esse trabalho começou há apenas seis anos e, hoje, já existem cerca de 160 espécies de plantas medicinais. Andar pelos canteiros e ouvir as explicações sobre cada uma é uma experiência sensorial. Sentir o cheiro das folhas e até provar algumas fazem parte da vivência que é estar na ervanaria.
Nos canteiros, a depender da época do ano, é possível ver o açafrão, considerado um poderoso anti-inflamatório; o angico, procurado para os casos de tosse; e sentir o cheiro das folhas de hortelã menta. Tem ainda a erva baleeira, conhecida por aliviar as dores musculares, o crajiru, procurado para casos de imunodepressão; a artemísia, indicada para menopausa.
Também estão lá plantas medicinais já bem conhecidas, como a valeriana, considerada um indutor de sono; além de nomes menos comuns, como congonha bugre, para ácido úrico; conta de lágrima e cordão de frade, para quadros de asma; guaçatonga, para artrose e fáfia, para fadiga física e mental. Andar e ouvir sobre cada uma delas, é um aprendizado não só sobre plantas medicinais, mas sobre o poder e a riqueza da biodiversidade.
Todo o processo de coleta e beneficiamento das plantas para a produção dos chás medicinais é feito na ervanaria. Os kits com as folhas para chás são vendidos na loja online. Além das vendas dos chás, a ervanaria recebe turistas e aprendizes para cursos e vivências sobre plantas medicinais.
“Eu comecei ensinando sobre plantas indo até outros lugares, mas hoje, encontrei o lugar onde as pessoas podem vir. E elas vêm até a ervanaria e vivenciam o cuidado com as plantas medicinais. O que alimenta nossa alma é receber as pessoas aqui e compartilhar o que sabemos e o que fazemos. É um trabalho de parceria com a natureza.”
Clique no vídeo para conhecer mais sobre a ervanaria e a bela região de São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro (MG), na serra do Espinhaço
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