Afinal, o que é bioeconomia?

Artigo publicado no jornal Diário do Comércio
Árvore do Cerrado. Foto: Lúcio Baccaro/ Pixabay

No Cerrado, bioma onde o desmatamento supera a devastação da Amazônia, há um refúgio produtivo que conserva a mata nativa no norte de Minas Gerais. Frutos como buriti, pequi, araçá e baru viram polpa e óleos vegetais beneficiados pela cooperativa Grande Sertão, que gera trabalho para 1.200 famílias em 300 comunidades no entorno de Montes Claros.

No Amazonas, a ciência e a tecnologia são usadas no processamento de produtos florestais como óleos vegetais, fibras, castanhas. No noroeste do estado, no Alto Rio Negro, as unidades produtivas da Pimenta Baniwa são agroindústrias de base comunitária, onde os produtos são embalados e comercializados para o Brasil e o exterior.

A biodiversidade brasileira sempre foi um campo vasto para os bioprodutos das mais variadas origens. Muitas iniciativas já existem há décadas, mas a bioeconomia só se tornou pauta mundial mais recentemente, assim que o mundo, ou parte dele, entendeu a urgência de investir em modelos econômicos de baixo carbono. Por outro lado, definir o que de fato pode ser considerado bioeconomia não parece ser tão conveniente assim.

Existem cadeias produtivas de baixo carbono que preservam a biodiversidade. E existem modelos de produção de baixo carbono que destroem recursos naturais.

Por isso, ao ler “bioeconomia”, você pode imaginar comunidades transformando saberes ancestrais em modelos produtivos que preservem as florestas nativas. Ou, ao contrário, você pode entender como “bioeconomia” aqueles desertos verdes de monocultivo, por exemplo, de eucalipto. Por mais díspares que possam ser, esses arranjos são chamados atualmente pelo mesmo nome. A importância da definição é que saber qual “bioeconomia” vai receber investimentos. Vai haver espaço para o novo?

Um artigo publicado pelo instituto de pesquisa WRI Brasil mapeou três conceitos de bioeconomia:

  • A bioeconomia biotecnológica é uso da tecnologia para maior eficiência ambiental e o critério de crescimento econômico se sobrepõe ao de sustentabilidade.
  • A bioeconomia de biorrecursos propõe aumento de produtividade e uso do solo, o que pode aumentar a pressão sobre os recursos naturais.
  • A bioeconomia bioecológica privilegia a biodiversidade e a conservação. A inovação e a produtividade são práticas orgânicas e ecológicas.

A definição de qual bioeconomia queremos não poderá ser adiada por muito mais tempo: pela primeira vez ela será discutida numa reunião do G20, presidida pelo Brasil, neste ano. O objetivo é que na declaração final do encontro de líderes, em novembro, os princípios desse conceito estejam delineados.

Além disso, o Governo Federal lançou, mês passado, decreto que cria a Estratégia Nacional de Bioeconomia, com a missão de articular, para os próximos meses, o Plano Nacional de Desenvolvimento de Bioeconomia. Se a definição final sobre o conceito continuar abstrata e ampla, vamos continuar sem uma resposta para a pergunta do título e ela, por sua vez, vai continuar sendo apenas o que atualmente é: uma provocação.

 

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