“A água do rio tem medo de gente”. O trecho da música “A água do rio Doce”, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, foi lembrado o tempo todo por Ailton Krenak, na conversa com o Projeto Preserva, há pouco mais de um mês, numa ilha no rio Doce: “a água do rio tem medo. E a gente, também”.
Watu: é assim que os Krenak chamam o rio Doce. Em 5 de novembro de 2015, uma barragem da Samarco (controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP) se rompeu em Mariana (MG) e 60 bilhões de litros de rejeitos de minério de ferro foram despejados no leito do rio, levando destruição por 675 km, até chegarem ao mar. Comunidades, distritos inteiros foram varridos do mapa pela lama da mineração.
Hoje, nove anos depois, Krenak diz que os netos do Watu estão de luto.
“É um luto silencioso, terrível, porque ele produz um trauma coletivo. É como se a pessoa perdesse a fé na vida”.
Veja a entrevista: