Custo da seca torna ainda mais urgente o debate sobre a transição energética

Minas tem fontes variadas, mas as consequências da transição energética também são muitas
Sol tenta vencer o céu enfumaçado na região de São João del-Rei (MG) - Foto: Projeto Preserva

A seca prolongada, que favorece os incêndios nas matas e seca os rios, tem um alto custo. De vidas humanas e não humanas, além do econômico. Depois de dois anos em bandeira verde, a conta de energia elétrica já virá mais cara em setembro, com a instalação da bandeira vermelha – medida que não era adotada desde 2022 –, por causa da necessidade de se recorrer às termoelétricas, mais caras e menos eficientes.

O debate sobre eficiência e transição energéticas precisa ser acelerado e aprofundado. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já nos disse que o governo não tem um plano para os resíduos gerados por uma nova matriz energética. Outra questão: como resolver o impacto sofrido pelas comunidades vizinhas às instalações?

Mais uma onda de calor e o sol brilha forte em Minas. Essa farta fonte de energia é a grande estrela da transição energética no Estado. Na região Norte, muitas áreas, antes verdes, estão cobertas de painéis, frutos da mineração, compostos por silício, alumínio, vidro, cobre, prata, que espelham mais uma face da devastação do Cerrado. Sua produção e seu descarte ainda geram resíduos tóxicos e difíceis de serem tratados, como chumbo e mercúrio.

Mas bons ventos também sopram pelos lados de cá. O potencial eólico do Estado é fonte eficiente em conjunto com a hidrelétrica, pois os meses de menos chuva são exatamente os de mais ventos. Porém a saúde de quem convive perto das imensas pás que movem as turbinas é afetada pela Síndrome da Turbina Eólica e pela Doença Vibroacústica, causadas pela exposição aos ruídos e ondas infrassons emitidos pelas hélices. Elas geram tonturas, dores de cabeça, distúrbios circulatórios, cardíacos e no sono.

Parque eólico naq Paraíba – Foto: Ricardo Stuckert/PR (Agência Brasil)

A fonte eólica só está atrás da hidrelétrica, a maior do país. O grande impacto das represas, que engolem cidades, matas inteiras, vem sendo substituído pela instalação das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). Mas, com a mudança climática, os períodos prolongados de seca têm comprometido o abastecimento das usinas.

Linhas de transmissão de energia do sistema elétrico nacional – Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Temos ainda a abundância da biomassa, que vem da agricultura e da floresta, gerando biogás a partir de resíduos orgânicos. Mas ela contribui para a formação de chuva ácida e tem impactos ambientais, com destruição de flora e fauna.

O hidrogênio verde pode ser uma saída. É uma fonte limpa, se produzido com energia renovável. Os biocombustíveis, uma alternativa avançada no Brasil, não são uma fonte “limpa”, mas são renováveis e com menor pegada de carbono que a queima de combustíveis fósseis, a principal causa do aumento das emissões de gases do efeito estufa, que provocam o aquecimento global.

A transição energética é urgente e necessária no combate à crise climática. E exige mudanças nos hábitos de consumo de energia e na forma como produzimos e consumimos bens e serviços.

É um processo complexo e desafiador. As escolhas não são fáceis ou tranquilas. E não terão impacto apenas nas gerações futuras. Nós já estamos sentindo na pele.

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