Eles se juntam para plantar microflorestas urbanas

Coletivo vai plantar 1.500 mudas este ano, em Belo Horizonte
 

Muitas mãos voluntárias se juntaram neste plantio coletivo de árvores e, em poucas horas, a área degradada às margens de um córrego, nos fundos do zoológico, ganhou mudas de goiabeira, aoreirinha, cedro, jatobá, ipê e ingá. O convite para o plantio, divulgado nas redes sociais, é aberto a todos e, dessa vez, reuniu quase 50 pessoas na manhã de um sábado. Os voluntários precisar levar apenas pás de jardinagem, luvas e disposição para o lugar combinado.

Voluntárias equipadas para o plantio – Foto: Projeto Preserva

“Plantamos em áreas que foram florestas no passado, mas que hoje estão degradadas. Estamos refazendo as florestas”, explica César Pedrosa, coordenador do coletivo de plantio.

 César é cardiologista e sempre plantou por paixão. Em 2021, ainda no auge da pandemia, decidiu formar um coletivo de plantio. Hoje, o Bora Plantar já é uma associação sem fins lucrativos com metas anuais em Belo Horizonte. Em 2024, o objetivo é plantar 1.500 mudas em dez parques da cidade.  

César Pedrosa, coordenador do Bora Plantar – Foto: Projeto Preserva

O primeiro passo é preparar o solo e usar espécies nativas. Mudas da Mata Atlântica e do Cerrado são preparadas no viveiro do jardim botânico da Prefeitura e, depois, doadas pela Fundação de Parques Municipais. Nas temporadas de plantio, o arquiteto Lucas Moreira se torna um dos voluntários. 

“É um trabalho pra gente e pro mundo. A crise climática tem proporções cada vez mais alarmantes. Então é a maneira que tenho de ajudar a diminuir os problemas que estão aparecendo”, diz Lucas.

Lucas Moreira é voluntário do coletivo Bora Plantar – Foto: Projeto Preserva

A restauração feita pelos coletivos de plantio priorizam a biodiversidade, ou seja, usam mix de plantas nativas e, por isso, se tornam corredores ecológicos importantes nas cidades que perdem a cobertura vegetal ano após ano. 

Belo Horizonte cortou em média 621 árvores por mês em 2023 

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou que, de janeiro a novembro de 2023, realizou 6.829 supressões de árvores na cidade e que prioriza o corte de árvores condenadas. A média é 26% maior que a do ano anterior.  Mas, árvores saudáveis também são cortadas se estiverem, por exemplo, em calçadas muito estreitas.

Duas sibipirunas saudáveis cortadas em dezembro de 2023, no bairro Carmo, Belo Horizonte – Fonte e foto: Blog da Kikacastro

A pesquisadora e doutora em Geografia, Carla Wstane, lembra que o modelo de cidades que estamos construindo se baseia na predominância de solos impermeabilizados, com uma infinidade de edificações e total cobertura de solo.

“É a higienização dos centros urbanos em detrimento de uma tecnologia milenar que é o plantio de árvores. Por sua vez, o plantio de árvores e os espaços verdes urbanos, sejam jardins ornamentais, filtrantes, hortas ou quintais produtivos, são iniciativas fundamentais para a resiliência das cidades”, enfatiza a pesquisadora.

Cada corte de árvore deveria ser compensado com replantio e ele pode ser solicitado à prefeitura. Mas, nas vias urbanas, tomadas por carros e especulação imobiliária, há cada vez menos espaços para elas. Existe também uma limitação natural: toda muda precisa de manutenção durante os primeiros cinco anos para sobreviver e, nas ruas, acabam sendo arrancadas.   

“Mesmo nos parques, todo plantio precisa de manutenção, porque o capim toma conta e mata as plantas. Por isso, depois de plantar, nós voltamos para fazer manutenções trimestrais”, conta César.

César explica como é o trabalho do Bora Plantar – Foto: Projeto Preserva

Entre os meses de abril e junho, os coletivos de plantio têm ainda o trabalho de evitar os incêndios. É preciso fazer a roçada, tirar o capim seco, reforçar a manutenção das plantas. 

Restaurar é preciso, mas como? 

Em carta publicada na mais importante revista de ciência mundial, a Science, pesquisadores do Centro de Conhecimento em Biodiversidade alertaram que a restauração deve priorizar uma diversidade maior de espécies de plantas e as características de cada área. É o que eles chamam de ecossistema de referência: são áreas nativas, próximas aos locais que serão restaurados, e que fornecem informações para guiar a restauração das áreas degradadas.

As florestas ajudam o solo a reter a água da chuva, abastecendo nascentes e bacias e, por isso, são essenciais nas cidades. Segundo a doutora Carla Wstane, o momento da interceptação das águas da chuva pelas copas das árvores faz com que a água demore um pouco mais para abastecer as raízes.

“Quando a água infiltra lentamente, é possível ter o melhor aproveitamento dela pela própria vegetação, permitindo tempo maior de absorção antes da evapotranspiração. Assim a água fica mais tempo naquele sistema e alimenta os ecossistemas naturais, o solo e as nascentes.”

Como participar de um coletivo de plantio
Júlia Xavier, de 10 anos, está aprendendo a plantar no coletivo – Foto: Projeto Preserva.

Os coletivos de plantio de Belo Horizonte divulgam suas ações nas redes sociais e, normalmente, são abertas a todos os voluntários. No caso do Bora Plantar, César enfatiza que toda ajuda é bem-vinda, já que o plantio e a manutenção precisam de muitas mãos. “Acaba sendo um exercício e um jeito bom de passar o sábado. Veja que todo mundo coloca a mão na terra, usa enxada, é até puxado, mas muito bom. Realmente quanto mais gente vier, melhor.”

Clarisse Soares cultiva o contato com a natureza – Foto: Projeto Preserva
Conheça mais alguns coletivos em Belo Horizonte que divulgam chamados para plantios 

Pomar BH: coletivo que já existe há sete ano e plantou mais de 5 mil árvores em Belo Horizonte.  Quase todas as árvores que plantam são espécies frutíferas. @projetopomarbh 

Arboriza BH: coletivo de plantio que atua no bairro Santa Teresa. @aborizabh

 

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