A tempestade que revirou Belo Horizonte em janeiro de 2020 ainda está na memória de quase todos nós. As imagens dos desmoronamentos nas encostas, dos rios abrindo caminho nas ruas, dos carros amontoados e placas de asfalto empilhadas em ruas da zona sul, como a Marília de Dirceu, foram resultado da chuva que caiu de uma só vez na cidade: a quantidade prevista para um mês inteiro desabou num único dia: quase 300 milímetros de água.
Esse foi um dos eventos extremos da história recente da cidade, que inclui as tempestades acima de 90 ml. Um dado da Defesa Civil, no entanto, é preocupante: quase 60% desses eventos extremos estão concentrados nos últimos quatro anos de monitoramento feito até 2023.
“Está tendo uma aceleração de eventos extremos, de chuvas mais intensas, que é o que é o mais impactante para a gente”, diz Dany Amaral – diretor de Gestão Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
“Isso mostra como a gente tem que acelerar a implementação dessas ações e temos feito várias reuniões no sentido de pensar como podemos acelerar essas estratégias de adaptação da cidade, pensando no que está acontecendo no Rio Grande do Sul, já aconteceu na Bahia e na região litorânea de São Paulo também”, acrescenta Amaral.
As estratégias de adaptação da cidade aos eventos extremos estão descritas no Plano de Ação Climática de Belo Horizonte, lançado em 2022. No entanto, ele vem sendo atualizado nas recentes reuniões entre os setores responsáveis pela gestão ambiental da prefeitura.
“A partir do que aconteceu no Rio Grande do Sul, estamos acelerando algumas discussões, por exemplo: a destinação do antigo Aeroporto Carlos Prates. Queremos que o novo bairro que ali vai surgir seja pensado com mais áreas verdes, com solos mais permeáveis, com detalhes que nos ajudem nessa adaptação da cidade” diz o diretor.
Entre as reuniões da última semana, o diretor de Gestão Ambiental atendeu o Projeto Preserva para nos explicar o que é o Plano de Ação Climática de Belo Horizonte.
(Projeto Preserva) Quais são as ações e metas práticas descritas no Plano de Ação Climática de Belo Horizonte?
(Dany Amaral) O Plano de Ação Climática é resultado de estudos e diagnósticos como o Inventário de Emissão de Gases, que mostra os setores que emitem mais gases na cidade. E, ainda, a análise de Vulnerabilidade Climática, que mostra regiões de Belo Horizonte vulneráveis a quatro fatores: ondas de calor, deslizamento, inundação e dengue.
Com base em todos esses estudos traçamos o Plano de Ação Climática com um conjunto de 16 macro ações divididas em três grandes eixos de atuação:
1) Mais vozes menos desigualdade: é a governança junto à comunidade, envolvendo a escuta dos grupos mais vulneráveis, desenvolvendo metas e ações que considerem os locais mais periféricos e mais afetados pelas mudanças climáticas.
2) Segundo eixo é mais vida e menos vulnerabilidade: é pensar como que a gente diminui o risco da população, quais são as estratégias para essa redução do impacto aos eventos extremos.
3) Terceiro grande eixo, que é mais verde e menos emissões: que aborda a infraestrutura verde da cidade, promove soluções baseadas na natureza para desenvolver e melhorar a cidade.
Os grandes eixos compreendem ações e metas de curto prazo 2025, 2030 e 2050.
Quais obras se tornaram prioritárias, diante da necessidade de acelerar a execução do Plano?
Estamos revisando dados e calculando as manchas de inundação para atuar em obras e estratégias difusas na cidade.
As bacias de detenção são um exemplo: elas fazem parte das obras de infraestrutura que vão modificar o regime de inundação e de ciclo de água na cidade, como a Vilarinho.
Os reservatórios Vilarinho e Nado têm conclusão prevista para o segundo semestre de 2024, segundo o site da Prefeitura. O mesmo prazo da bacia de detenção B5, do córrego Ferrugem, que mesmo antes da conclusão, evitou a inundação da Av. Teresa Cristina, em dezembro de 2023, segundo a Defesa Civil. |
(DA) Sobre ondas de calor, nós estamos implementando agora refúgios climáticos, que seriam locais com árvore para pessoa ter sombra, banco e disponibilização de água, tanto para beber, mas também para fazer uma espécie de névoa para refrescar as pessoas.
(PP) Quais são os projetos para reter a água de chuva, uma vez que a cidade sofre com a impermeabilização e canalização dos rios?
(DA) Um dos caminhos é a implantação de jardins de chuva: que seria abrir áreas permeáveis na cidade para ajudar com a absorção de água. O jardim de chuva é um tipo de tecnologia que tem algumas restrições e locais mais adequados para implantação. Quanto mais alto ele estiver, mais efetivo ele vai ser para reduzir aquela água que chega no canal ou na porção mais baixa da bacia. Nós temos 153 jardins de chuva licitados para implantação.
Temos ainda o Selo BH Sustentável, que incentiva empresas ao uso de caixas de captação para utilização de água em áreas verdes. Os empreendimentos podem ter descontos em dívida ativa, ganhar selos, premiações. Hoje é possível em pequenos empreendimentos ou edifícios usarem caixas de captação que vão ajudar depois com possíveis problemas de restrição do regime hídrico.
O Selo BH Sustentável é concedido a empreendimentos públicos e privados, condomínios residenciais, comerciais e industriais que adotem medidas para a redução do consumo de água, energia, de emissões diretas de gases de efeito estufa e reciclagem de resíduos sólidos. A adesão ao programa é feita de forma voluntária. Escolas municipais também podem aderir ao programa. |
(PP) A questão da arborização na cidade foi um ponto polêmico nos últimos meses, com os cortes de árvores feitos pela prefeitura. Isso vem sendo discutido?
(DA) De fato, a arborização é um grande desafio. Tivemos as supressões, mas redefinimos a meta de plantio da cidade. Ela passou de 24 mil árvores para 35 mil.
Foi criado o Observatório do Meio Ambiente também para discutir esses temas na cidade e vamos criar o Plano de Arborização Urbana com metas para 2030, 2040, 2050. Sabemos que precisamos aumentar a quantidade de vegetação da cidade.
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