O relato dos brigadistas voluntários da Serra do Cipó:

"Só via linhas de fogo, fumaça e cinzas".

Coluna publicada no Jornal Diário do Comércio.

No momento em que você lê esta coluna, milhares de hectares de Cerrado e Mata Atlântica, em Minas Gerais, viraram cinzas. Na última semana, a angústia de quem se voluntaria na Brigada Cipó atravessou, acidentalmente, nossa rotina durante uma viagem pelo Projeto Preserva. Tivemos a oportunidade de acompanhar por três dias os desafios de quem coloca o corpo e a saúde mental a serviço desse combate.

Brigada voluntária da Serra do Cipó, que atua no combate a incêndios. Foto: Odilon Amaral / Projeto Preserva

Nós estávamos a caminho da Serra do Cipó para conhecer um projeto de educação ambiental voltado à primeira infância, quando o fogo saiu de controle. Rapidamente o incêndio se tornou o assunto em toda a vila. As imagens e mensagens de exaustão enviadas pelos voluntários da Brigada Cipó provocaram uma onda de doações na serra.

Água, comida, remédios e mais voluntários foram enviados ao centro de logística da brigada, chamado de “Tapera”. Foi lá que conhecemos Stephanie, uma brigadista voluntária, falando com o choro preso e olhar muito cansado. Desta vez, cedemos nosso espaço nesta coluna para que o apelo desses voluntários apareça.

“Está um caos lá em cima: no sábado, dia 17, a Brigada Cipó já estava combatendo o fogo na Área de Proteção Ambiental Morro da Pedreira, uma área que circunda o parque nacional. No domingo, o fogo passou para as proximidades do parque. Os brigadistas se revezaram sem parar, dormindo só três horas”, ela disse.

No domingo, outras brigadas voluntárias se juntaram ao trabalho, além dos brigadistas do ICMBio e 19 bombeiros. O apoio aéreo começou na segunda-feira. O fogo já estava fora de controle. Na terça-feira, quando conversamos com Stephanie, a Brigada Cipó entrava no quarto dia de combate.

“Voei de helicóptero na região do Alto Palácio e vi apenas linhas de fogo, fumaça e cinzas. A Serra Morena queimou quase toda, não tem mais nada pra queimar, na verdade. A região do Vau da Lagoa queimou praticamente toda e a área da Mãe D’água está queimando muito e já beirando a região do parque nacional.”

Sthephanie Ossart é francesa e mora na Serra do Cipó há 11 anos. Depois do último grande incêndio na serra, em 2020, a Brigada Cipó se articulou para combater de forma organizada e sistemática o fogo na região.

“Nos meses de muita chuva pode cair raio e pegar fogo na mata, mas, no tempo seco, são pessoas que colocam fogo, seja para limpar pasto ou por qualquer outro motivo. Desta vez, queimaram muitas cabeceiras onde estão as nascentes. Desse jeito vão acabar com tudo, porque, sem água, não existe nada. E queimada é crime. Eu espero que seja investigado e os culpados sejam punidos.”

As doações de água, comida e remédios em momentos de combate não paravam de chegar à Tapera. O que não imaginamos, é que a logística de uma brigada contra incêndios envolve muito mais.

“Precisamos de mais voluntários e mais doações. A logística do combate envolve gasolina, equipamentos como os sopradores, que são caríssimos, EPI. Quando o fogo começa, somos nós que estamos lá, somos nós que pedimos o apoio de outras brigadas e poder público. Se não tiver voluntário e se não tiver doação, a brigada não existe”. (Stephanie Ossart, brigadista voluntária).

Quem quiser e puder fazer doações, este é o PIX da Brigada Cipó: brigadacipomg@gmail.com

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