Os efeitos dos extremos climáticos dentro das cidades impactam a vida de quase toda a população do Brasil, considerando que, segundo o IBGE, mais de 85% dos brasileiros vivem em áreas urbanas. Como aumentar a resiliência das cidades? A pergunta foi o tema da mesa redonda que abriu o segundo dia da Conferência Nacional de Mudanças Climáticas, organizada pela Rede Clima, entre 18 e 20 de junho.
O climatologista Carlos Nobre começou lembrando que os eventos climáticos mais prejudiciais aos humanos são as ondas de calor.
“As ondas de calor provocam 50 vezes mais mortes do que enchentes. Estamos tendo recordes de onda de calor em todo mundo”, afirmou Carlos Nobre.
Carlos Nobre se tornou integrante grupo Planetary Guardians, que reúne pesquisadores e ativistas em prol de estudos e análises sobre ação climática e proteção de comunidades vulneráveis.
As ondas de calor vêm batendo recordes em todo mundo. Chegamos ao 12º mês consecutivo -um ano inteiro- em que a temperatura média global atingiu um valor recorde para o mês. Em maio, a temperatura média atingiu 1,52°C acima dos níveis pré-industriais, segundo o Serviço de Monitoramento das Alterações Climáticas do programa Copernicus.
O El Niño não é a principal causa das ondas de calor, segundo a professora Regina Rodrigues, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ela apresentou os números do World Weather Attribution Study, que mostram que as mudanças climáticas aumentaram a probabilidade de ocorrência de seca meteorológica em 10 vezes.
“A severidade da seca foi devido ao aumento da temperatura global e, portanto, às mudanças climáticas”, segundo a professora Regina Rodrigues
Todo esse cenário indica que as cidades precisam repensar os modelos de planejamento agora, de acordo com o professor da UFMG, Alysson Barbieri, doutor em Planejamento Regional e Urbano e coordenador de Cidades na Rede Clima.
“O conceito de resiliência nos remete à ideia de sistema socioambiental. O ponto central é que quando pensamos em resiliência, pensamos em limites também da natureza. Então precisamos considerar que há limites para o uso da natureza, limites para o crescimento econômico. Precisamos superar o fetiche do crescimento do PIB”, disse o professor.
Ele citou como exemplo a mineração em Minas Gerais: de acordo com Barbieri, a bacia do Rio das Velhas é o principal abastecedor de Belo Horizonte e é cercada por mais de 60 barragens de rejeitos de mineração, que não foram projetadas para mais de 200 milímetros de chuva. Durante a Conferência Nacional do Clima, ele lançou a reflexão: “Como pensar as vulnerabilidades dessas construções diante dos riscos climáticos?”
“Agora, há um megaprojeto de mineração de 13 quilômetros quadrados na Serra da Gandarela, a maior área contígua de mata atlântica de Minas Gerais. Vamos trocar minério de ferro por água? Precisamos pensar nessas escolhas. Sabemos os inúmeros interesses envolvidos, mas precisamos pensar nessas escolhas.”
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