A mata nativa já começou a crescer nas áreas roçadas e nas pastagens da propriedade de João Evanil, em Itamonte, no Sul de Minas Gerais. O terreno, que já está há três gerações na família, fica num lugar privilegiado da Serra da Mantiqueira. O município é cercado por áreas de preservação ambiental como o Parque Nacional do Itatiaia e o Parque Estadual da Serra do Papagaio.
A filha dele, Nelma, que também tem uma propriedade rural na região, disse que João nunca gostou de desmatar:
“Ele sempre deixou a floresta em pé e nas áreas roçadas ele deixava a natureza crescer porque o solo fica protegido quando tem vegetação maior. A terra ‘pelada’ não tem matéria orgânica e não é tão produtiva e tão boa”, diz Nelma.
Há um ano, as propriedades da família começaram a fazer parte do Projeto Carbono para Restauração Florestal, implementado em quatro municípios, nos Altos da Mantiqueira, pelo Instituto SuperAÇÃO. O compromisso dos produtores rurais é restaurar a mata nativa e gerar créditos de carbono. Já as empresas que financiam a restauração da mata conseguem, assim, os créditos para compensar os seus impactos ambientais.
Restauração ambiental, como explicamos nesta reportagem, significa plantar espécies nativas da região. Diferentemente de reflorestar, que é apenas o “esverdeamento” com plantio de árvores que não trazem de volta a biodiversidade do lugar.
Além da cidade de Itamonte, produtores de Itanhandu, Passa Quatro e Pouso Alto, cidades da região conhecida como Terras Altas da Mantiqueira, participam do projeto. Ao todo, são 47 propriedades rurais e 335 hectares de mata a ser restaurada.
Como funciona esta comercialização de créditos de carbono?
Nesse projeto, os produtores rurais assinam um contrato de 10 anos com a empresa financiadora. Nos primeiros cinco anos, eles recebem pagamentos anuais pelos serviços ambientais, o PSA. Quando a floresta crescer, o crédito de carbono será medido para que seja certificado e comercializado.
Joana Pires, coordenadora de meio ambiente do Instituto SuperAÇÃO explica que a empresa financiadora investe na restauração da mata das propriedades rurais para conseguir compensar o próprio impacto ambiental que gera. No Projeto Carbono desenvolvido na Serra da Mantiqueira, a empresa financiadora é o Mercado Livre.
“A partir do quinto ano, o carbono gerado será medido, para que seja certificado e comercializado (80% para o financiador e 20% para proprietário rural durante a vigência do contrato). Após o décimo ano, o carbono pertence ao proprietário rural.”, explica Joana.
No caso desse projeto que prevê plantio de mudas e restauração ambiental, a coordenadora lembra que os benefícios se estendem também aos ecossistemas.
“Pode-se esperar um grande aumento da biodiversidade, auxílio na regulação do clima e do ciclo da água, podendo ocorrer até mesmo o surgimento de nascentes. As florestas contribuem para o aumento das chuvas no local e para a qualidade e permeabilidade do solo, abastecendo o lençol freático de maneira cada vez mais eficiente”, diz Joana.
Os técnicos do projeto fazem a identificação via satélite das áreas elegíveis para a restauração. Em seguida, ele visitam os locais e avaliam, com os proprietários, as áreas que devem ser protegidas.
O começo do trabalho para restaurar a mata nativa é, normalmente, o cercamento de áreas de plantio para evitar a circulação de animais de grande porte e o cercamento de nascentes. João já cercou mais de 500 metros da propriedade.
“A gente teve que cercar as nascentes e divisas do terreno, para evitar animais grandes de áreas vizinhas, como javalis, que pisoteiam muito a terra e compactam o solo. Fizemos também mudas de árvores e vendemos para o projeto. A diferença é muito grande, porque as árvores nativas conseguem se desenvolver.”
Nelma disse que já sentiu os primeiros efeitos na propriedade:
“Não foi só o clima que melhorou. A gente já sente a diferença no volume da água das nascentes e dos brejos.”
As informações do projeto estão na base de dados do Portal da Mantiqueira, uma plataforma de gestão territorial do Conservador da Mantiqueira.
As nossas reportagens podem ser republicadas, desde que sem qualquer tipo de alteração e que seja citada a fonte. Deve constar o(s) nome(s) do(s) autor(es) da foto e/ou da reportagem, assim como o nome do Projeto Preserva e, quando possível, o link para a página em que o material foi publicado originalmente.