Seis atropelos ao meio ambiente na Pampulha

Justiça interrompe corte de árvores para o Stock Car. Veja os seis problemas listados por técnicos em parecer contrário ao evento de automobilismo.
Árvores cortadas no entorno do Mineirão – Foto 1: César Pereira, Coletivo Bora Plantar | Foto 2: Antônio Rodrigues, Coletivo Pomar BH

As recentes ondas de calor em Belo Horizonte e os números que mostram o aquecimento de Minas acima da média nacional não evitaram que a Prefeitura cortasse árvores no entorno do Mineirão para um evento da Stock Car.

 

A justiça proibiu os cortes em decisão liminar, mas pelo menos 12 árvores já tinham ido ao chão, apesar da manifestação de ambientalistas, vigília de moradores e nota da UFMG alertando para a falta de diálogo com a Prefeitura. A liminar foi cassada poucas horas depois. Quase um mês antes, no entanto, técnicos da própria Secretaria de Meio Ambiente emitiram parecer contrário à construção do autódromo na Pampulha e listaram pelo menos seis problemas.

 

No rito de licenciamentos para o autódromo, a Prefeitura optou por seguir as regras estipuladas para um “evento”, já que a corrida aconteceria uma vez ao ano. Nesse caso, as obras não foram tratadas como construção de grande porte, que exigiria outro tipo de licenciamento ambiental.

 
 

A construção do autódromo foi aprovada pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura, contrariando parecer da própria Secretaria de Meio Ambiente.

 
Corte de árvores começou em 28 de fevereiro – Foto: Imagem capturada de vídeo de Antônio Rodrigues, coordenador do coletivo de plantio Pomar BH
 

Em 31 de janeiro, técnicos da SMMA listaram pelo menos seis problemas para a construção do autódromo no entorno do Mineirão:

 
  • Obra em área de patrimônio natural e cultural: o autódromo ocuparia uma ADE – Área de Diretrizes Especiais – da Pampulha, de patrimônio estadual e nacional, protegido por IEPHA e IPHAN, além de uma ADE da bacia hidrográfica da Pampulha.

  • Corte de árvores protegidas por lei: dentre as 73 árvores com previsão de corte, 54 são de espécies nativas, como Pau Ferro, Ipê Roxo, Ipê Amarelo, Macaúba e Paineira. E 19 são exóticas, como o Ipê Rosado, Framboyant e Tipuana. Ao todo, o projeto prevê o corte de 73 árvores, sendo que 14 são Ipês Amarelos da espécie Handroanthus serratifolius que, pela lei, é declarado de interesse comum, de preservação permanente e imune de corte.

  • Danos ao corredor ecológico: o percurso previsto para a corrida é classificado por lei como “Conexão Verde”, porque interliga áreas de preservação ambiental importantes para formação de corredor ecológico na cidade.

 
Conexão Verde. Fonte: GEAVA/SMMA. Base: BH Map, PRODABEL, 2024.
  • Ruído acima do permitido para pessoas e animais: a proximidade com o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é o ponto mais crítico, tendo em vista os ruídos, não só dos eventos da corrida, bem como da própria obra.

 

  • Contaminação de óleos na lagoa da Pampulha: é esperado um aumento da liberação de óleos a montante da lagoa da Pampulha, que serão carreados para dentro dela, aumentando assim sua contaminação, impactando, dessa forma, as espécies que se abrigam ali.

 

  • Desconforto térmico (aumento da temperatura): o parecer lembra que as ondas de calor estão mais frequentes e que elas se intensificam quando há ausência de árvores. Portanto, dentre os impactos, em relação à supressão arbórea, o que o cidadão sentirá de imediato será no conforto térmico. A maioria das árvores a serem suprimidas proporcionam um razoável sombreamento, além da diminuição da poluição atmosférica, retendo particulados em suspensão do ar, e do sequestro e armazenamento de carbono, um dos gases de efeito estufa.

 
Impactos Ambientais. Fonte: GEAVA/SMMA. Base: BH Map, PRODABEL, 2024.
“Diante do exposto nos manifestamos desfavoráveis que a intervenção em espécimes arbóreos apresentada pela Sudecap sejam analisadas de forma isolada, sem considerar o licenciamento da corrida e os demais impactos que poderão ocorrer em virtude da realização desta”, concluiu a SMMA.

 

O Secretário de Meio Ambiente de Belo Horizonte, José Reis, anunciou a compensação de 688 novas plantas e disse que a Sudecap (Superintendência de Desenvolvimento da Capital) iria começar na sexta-feira, 1º de março, o plantio de 66 novas árvores na região da Pampulha. O Superintendente da Sudecap, Henrique Castilho, afirmou que todos os licenciamentos exidos para um “evento” foram feitos.

 

A UFMG publicou nota manifestando preocupação com o evento e informando que o poder público municipal não estabeleceu diálogo com a Universidade e a comunidade universitária.

 

Os coletivos de plantio e ambientalistas também se posicionaram contra e afirmam que a compensação de árvores é complexa: “O número de mudas plantadas é bem maior que o de árvores cortadas porque as mudas estão sujeitas a muito estresse e desafios até que consigam de fato se tornaram árvores.”

 

“Outro fator é que a compensação não é feita na mesma área, mas sim, em áreas degradadas e essas mudas ficam ainda mais vulneráreis aos incêndios e abandono. Uma grande parte dessas mudas vai morrer depois do plantio”, explica Cesar Pereira, do coletivo Bora Plantar.

 

Veja aqui o parecer técnico da SMMA (ou clique na figura):

 
 

Nós procuramos os organizadores do evento em Bel Horizonte, mas, até o momento da publicação desta reportagem, eles ainda não haviam respondido aos questionamentos. Assim que se manifestarem, a reportagem será atualizada.

 
 

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